Diariamente, somos espectadores de um crime que vem se tornando cada vez mais comum nos ambientes de trabalho: o desperdício de tempo. Conscientes de que nosso tempo é limitado, torna-se verdadeiramente criminoso jogá-lo fora.
O tempo, esse limite intransponível do empreendimento humano, influencia desde nossa maneira de trabalhar até a duração das coisas, definindo, em última instância, se somos bem-sucedidos ou não. O fluxo implacável do tempo molda fundamentalmente nossa visão de mundo e de nós mesmos, como Marvell bem expressou: "Verdade, o sol não pode ser parado, correndo é que ele fica ao nosso lado."
Taiichi Ohno, ao combater três formas de desperdício de tempo no programa de qualidade da Toyota, destacou:
1. Muri - Desperdício causado pela irracionalidade: Ações realizadas apenas para satisfazer a hierarquia. Quanto tempo da sua vida é jogado fora em um trabalho que nem você nem seu chefe consideram valioso para o cliente final?
2. Mura - Desperdício causado pela inconsistência: Projetos inacabados interrompidos por sobreposição de mais projetos, chegando ao ponto de não sabermos por onde começar. Em meio às mudanças aceleradas, é crucial avaliar criticamente as decisões – estão alinhadas com as políticas e a visão da empresa? Esses projetos se complementam?
3. Muda - Desperdício causado pelos resultados: Esforços para obter um resultado que, no final, não acrescentará valor ou não será disponibilizado ao cliente. Resultados não verificados, uma vez alcançados, perdem sua relevância sem serem checados ou compreendidos, acumulando-se sem agregar informações para as próximas decisões.
Considerando esses pontos, podemos identificar três fontes de desperdício nos ambientes corporativos:
1. Falta de autonomia: Equipes autogerenciáveis têm o poder de tomar decisões sobre seu trabalho, acelerando tarefas. Chefes que centralizam decisões se tornam gargalos, desperdiçando o tempo de suas equipes.
2. Processos em série e detenção de informação: Em um cenário ideal, teríamos fluxos enxutos, evitando dependências excessivas entre pessoas para obter informações. Isso demanda tempo e desvia o foco.
3. Fazer uma coisa de cada vez: A cultura da multitarefa, muitas vezes vista como habilidade, na realidade, desperdiça tempo e pode diminuir a inteligência. A mudança constante de foco é prejudicial e uma das principais causas de desperdício.
É crucial tornar-se consciente do custo da troca de contexto e minimizá-lo. Estudos mostram que pessoas propensas à multitarefa geralmente têm uma percepção exagerada de suas capacidades, o que pode levar a uma queda no QI com o aumento do estresse causado pelo acumulo de tarefas.
Em suma, assim como o mestre de kung fu, o monge ou o dançarino nos diriam, a raiz do fluxo está na disciplina. Não pode haver desperdício de movimentos, apenas a aplicação concentrada da capacidade humana. O desperdício é qualquer coisa que o distraia disso. Ao encarar o trabalho sob a ótica da disciplina e do fluxo, talvez consigamos realizar algo incrível.
Naturalmente, existem muitos outros comportamentos que se tornam verdadeiras armas de destruição do nosso tempo, mas por enquanto, ficamos com essa breve reflexão. Agradeço pelo seu tempo!
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